As Festas de Santo António em Lisboa

ROMA 05 Li

O bom vinho, as sardinhas assadas, os desfiles coloridos, os casamentos. Falamos aqui, evidentemente, das festas de Santo António em Lisboa, Portugal, onde celebramos o santo cristão. Várias cerimónias têm lugar durante o mês de Junho, mas a apoteose da festa acontece todos os anos no dia treze do sexto mês, celebrando o dia do falecimento de Santo António, que é também o dia da cidade, feriado municipal. Uma celebração repleta de animação e convívio e cujo significado e história vamos conhecer.

Santo António, também chamado Santo António de Pádua, nasceu em Lisboa em 1195. O seu nome de batismo é Fernando Martins de Bulhões, e a sua vida religiosa começou no Mosteiro da Santa Cruz de Coimbra, convertendo-se frade Franciscano e tornando-se assim o “Irmão António”. Em 1220, parte para Marraquexe, em Marrocos, para pregar o Cristianismo, mas adoece e é obrigado a regressar a Portugal. No entanto, na sua viagem de regresso, encalhou na Sicília, onde conheceu os irmãos Messina. Apreciado pela sua sabedoria e grande capacidade oratória, foi enviado para Itália e França para expandir as conversões católicas. Fundou as primeiras escolas franciscanas em Pádua, na Itália, onde permaneceu até à sua morte, a 13 de Junho de 1231, aos 36 anos, e onde o seu túmulo se encontra, na Basílica com o seu nome, porque criada em sua homenagem. A Santo António foi reconhecida a realização de dezenas de curas milagrosas e foi canonizado pelo Papa Gregório IX em 1232. 
É pois a 13 de Junho que os lisboetas festejam o Santo de Lisboa, o que implica que se tenha tornado corrente considerar que se trata do padroeiro da cidade. Na realidade o verdadeiro santo padroeiro é São Vicente, aliás representado no brasão da cidade.
Inicialmente, só se celebravam festividades religiosas como missas e procissões, mas com o passar do tempo esta festa tornou-se numa celebração religiosa e profana onde os habitantes se reúnem nas ruas para comer, beber e dançar num ambiente decorado com fitas multicolor e acompanhado do cheiro das famosas sardinhas portuguesas, de vinho e de cerveja.
Um momento emblemático destas celebrações são as marchas populares, disputadas pelos diversos bairros da cidade e cuja origem se deve a João Leitão de Barros, mais conhecido pela sua carreira como cineasta, mas cujo interesse pelo folclore nacional o leva a convidar os Lisboetas a desfilar nas ruas para apresentarem os seus talentos e criatividade. 
Santo António tem vários atributos reconhecidos pela tradição popular: é conhecido como o protetor das casas e da família, advogado das almas do purgatório, ajudante para encontrar os objetos perdidos e sobretudo protetor dos namorados e casados. De facto, em Portugal, Santo António recebeu o apelido de “Santo casamenteiro”, por ser considerado o santo padroeiro e conciliador dos casais. Outro momento alto das celebrações lisboetas são os “Casamentos de Santo António”, cerimónia organizada pelo município de Lisboa para ajudar os habitantes dos bairros populares com dificuldades financeiras a casar, tradição que data dos anos 50 do século XX.
Mas Santo António não é só o “Santo casamenteiro“ em Portugal, também o é no Brasil, onde podemos até encontrar várias histórias sobre a origem deste apelido. Uma dessas histórias é a lenda de uma rapariga que estava desesperada na procura de um marido e por isso rezava ao Santo com a esperança de uma ajuda. O tempo passava mas, infelizmente, a rapariga continuava sem resposta. Com a desilusão de não ter tido o que procurava, a jovem atirou a imagem do santo pela sua janela. Neste mesmo momento, um cavalheiro passava em frente à sua casa e acabou atingido com a imagem na cara. Mas a história tem um final feliz, os dois jovens casaram-se e a rapariga, agradecida, atribuiu este casamento ao Santo António.
Esta esperança de encontrar o amor graças ao Santo espalhou-se e o “Bolo do Santo António” é confecionado, no Brasil, para as pessoas que desejam encontrar o amor. Os pasteleiros põem medalhas, santos, alianças ou chaves para representar os desejos das pessoas que comem o bolo e dita a lenda que a pessoa que ficar com um dos objetos verá o seu pedido acolhido pelo Santo.
A devoção a Santo António suscita, assim, ainda hoje, e em diferentes países lusófonos, lendas e histórias que consolidam laços comunitários com espírito festivo e muito amor. Combinando tradição religiosa, homenageando o Santo António pelos seus milagres e pela sua alma pura, com a convivência e cultura portuguesas, a calorosa e multicolor festa de Santo António junta os habitantes de Lisboa nas ruas, inundadas pelo som de música folclórica, dança e prazeres culinários que encarnam o autêntico ambiente lisboeta. 

Referênciasbibliográficas

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TALKPAL AI, “A Cultura das Festas de Santo António em Lisboa”, Talkpal AI, [s.d.], em linha: https://talkpal.ai/pt-pt/culture/a-cultura-das-festas-de-santo-antonio-em-lisboa/, consultado em 11/12/2024.
VISÃO, “Dos casamentos de Santo António às marchas populares : A história das tradições das festas de Lisboa”, Visão, publicado em 12/6/2024, em linha: https://visao.pt/atualidade/sociedade/2024-06-12-dos-casamentos-de-santo-antonio-as-marchas-populares-a-historia-das-tradicoes-das-festas-de-lisboa/, consultado em 11/12/2024.
***, “‘Me ajuda, Santo Antônio’ : o significado do bolo feito nas paróquias com imagens do Santo”, Idemais, publicado em 12/6/2024, em linha: https://idemais.com.br/noticias/me-ajuda-santo-antonio-o-significado-do-bolo-feito-nas-paroquias-com-imagens-do-santo/, consultado em 11/12/2024.
***, “La main sur la Tombe”, Saint Antoine De Padoue, [s.d.], em linha: https://www.santantonio.org/fr/content/la-main-sur-la-tombe, consultado em 5/12/2024.
***, “Santo Antônio: A História de sua origem”, Listologia, [s.d.], em linha: https://listologia.com/origem-do-santo-antonio/, consultado em 5/12/2024.

Cette page a été rédigée pour la revue ROMA 5/2024 par Cátia Cardiga et Sophie Grutzius.
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