Em 1978, em Canidelo, Vila do Conde, Portugal, Manuel Ramos fundou a empresa de construção de canoas e caiaques « Nelo ». Ramos, o primeiro campeão nacional de canoagem em Portugal, também alargou os horizontes da empresa a Inglaterra, com o objetivo de crescer e reforçar a sua atividade. Ao longo de várias décadas, a Nelo produziu modelos de embarcações cada vez mais inovadores que, por vezes, como no caso do « K1 Moskito » ou da linha « Vanquish », deixaram a sua marca e revolucionaram completamente o mercado.
Mais de 50 anos após a sua fundação, a Nelo é, desde há muito tempo, líder mundial na produção de canoas e caiaques, especialmente barcos de competição.
Na canoagem de velocidade, cujos fundamentos serão abordados na secção seguinte, são utilizados dois macro-tipos de embarcações, a canoa e o caiaque. Na canoa, o atleta está de joelhos e utiliza um remo simples; no caiaque, por outro lado, o canoísta está sentado e utiliza um remo duplo. Tanto a canoa como o caiaque podem acomodar, dependendo do seu tamanho, um número variável de pessoas: 1, 2 ou 4. Nas competições, as embarcações são identificadas pelas iniciais: C para canoa e K para caiaque; ambas são seguidas do número de atletas na embarcação (por exemplo, C1 ou K1).
A canoagem de velocidade é a disciplina para a qual a Nelo fabrica os barcos de mais alto nível. Este ramo dos desportos a remos desenrola-se normalmente em cursos de água calma, como as bacias fluviais e lagos.
Dado que não estão envolvidos motores nem correntes de água particularmente fortes, a canoagem de velocidade é um desporto que exige apenas força física e habilidade dos atletas para se destacarem. Para que um atleta seja mais rápido que os outros e ganhe uma corrida, deve, portanto, combinar uma grande força com uma excelente técnica de ‘pagaiada’: neste sentido, deve ser capaz de realizar, utilizando todo o corpo, um movimento potente e fluido, que encontre a menor resistência possível na água, a qual contrapõe um atrito considerável.
No entanto, para minimizar a resistência ao atrito, não basta que o atleta possua uma técnica excelente: de facto, é indispensável que o barco utilizado seja efetivamente ‘hidrodinâmico’. Este é, evidentemente, o objetivo concretizado há muitos anos com enorme sucesso pela Nelo, como marca técnica selecionada por atletas e federações de mais de 100 países em todo o mundo. Além disso, empresa portuguesa vende cerca de 5.000 caiaques por ano.
Este domínio do mercado é particularmente evidente nas competições de alto nível, como os Jogos Olímpicos ou os Campeonatos do Mundo, onde a Nelo fornece barcos a mais de 75 % dos participantes. A quantidade está naturalmente associada à elevada qualidade, como se pode verificar pelo total de 93 medalhas olímpicas conquistadas na história dos Jogos por atletas que utilizaram embarcações Nelo.
Começando pela edição de Atlanta 1996, onde uma embarcação Nelo, pertencente à Rússia, conquistou a primeira medalha da empresa portuguesa, o sucesso da Nelo tem-se acentuado a cada edição dos Jogos Olímpicos, tendo estabelecido um recorde impressionante nos Jogos Rio 2016, com 27 medalhas conquistadas em 36 disponíveis, quase repetido em Tóquio 2021, com 24 medalhas em 36.
Como escreveu o Jornal de Negócios em agosto de 2022, quando publicou uma entrevista dada pelo diretor-executivo da Nelo, André Santos, à agência Lusa, a Nelo estabeleceu como objetivo reconfirmar a mesma proporção de medalhas conquistadas em relação às disponíveis para os Jogos Olímpicos de Paris 2024. Segundo Santos, isso confirmaria duas décadas de hegemonia da Nelo nos Jogos Olímpicos, que começou em Atenas 2004.
Contudo, esta hegemonia no mercado das canoas e dos caiaques, sobretudo ao mais alto nível da modalidade, não se deve à velocidade que estas embarcações permitem atingir: com efeito, as competições protegem a igualdade dos atletas e o princípio desportivo fundamental, estabelecendo regras sobre os equipamentos que podem ser utilizados, como limites mínimos de peso ou de largura. Assim, num contexto profissional, é raro, se não impossível, que a diferença entre atletas seja determinada pela qualidade intrínseca da embarcação, até porque, como explicado acima, o próprio desporto implica que o canoísta se mova apenas com a sua própria força muscular.
São, pois, a qualidade do material (uma combinação de carbono, resina e fibras) e o conforto que cada atleta sente ao utilizar a embarcação que determinam o domínio da Nelo sobre as outras empresas de produção de canoas e caiaques. Os principais concorrentes da Nelo, para dar alguns exemplos concretos, são a empresa polaca Plastex e a empresa eslovaca Vajda.
Embora na opinião comum seja considerado um desporto ‘menor’, em Portugal a canoagem tem uma reputação bastante importante, especialmente graças a Fernando Pimenta, considerado um dos maiores atletas de sempre na história do país, se não o melhor de sempre, graças ao número impressionante de medalhas que ganhou durante a sua carreira (REDAÇÃO MAISFUTEBOL, 2023). Inevitavelmente, sendo português, como a empresa, Pimenta utiliza caiaques fabricados pela Nelo, como quase todos os canoístas mais fortes do mundo também fazem. Pimenta é um especialista em caiaque individual (K1), mas também teve sucesso em provas com tripulação durante a sua carreira, como atesta a sua primeira medalha olímpica em Londres 2012 na prova de K2 nos 1000 metros.
Nos últimos anos, a Nelo tem-se empenhado em promover a sustentabilidade ambiental na sua política empresarial, procurando reduzir as emissões de CO2 e aumentar a utilização de energias renováveis.
Para além disso, na produção de barcos para atletas amadores, a Nelo já enveredou pelo caminho da criação de modelos feitos de material reciclado, como o Nelo 510.
São, portanto, não só os sucessos nas regatas de competição, mas também os esforços no sentido de um total respeito pelo ambiente, que fazem da Nelo uma empresa de que Portugal se pode orgulhar.
Referências bibliográficas
LUSA, “Caiaques Nelo ganham cerca de 70% das medalhas em Tóquio 2020”, Publico, publicado em 8/8/2021, em linha: https://www.publico.pt/2021/08/08/desporto/noticia/caiaques-nelo-ganham-cerca-70-medalhas-toquio-2020-1973462, consultado em 6/1/2024.
NÁUTICA PRESS, “NELO – 40 Anos a Inovar a Canoagem”, Náutica Press, publicado em 12/3/2018, em linha: https://www.nauticapress.com/nelo-40-anos-a-inovar-a-canoagem/, consultado em 6/1/2024.
NÉGOCIOS COM LUSA, “Supercampeão mundial Nelo quer celebrar em Paris2024 hegemonia na canoagem”, Jornal de negocios, publicado em 6/8/2022, em linha: https://www.jornaldenegocios.pt/empresas/industria/detalhe/supercampeao-mundial-nelo-quer-celebrar-em-paris2024-hegemonia-na-canoagem, consultado em 6/1/2024.
REDAÇÃO MAISFUTEBOL, “«Fernando Pimenta é o melhor atleta português de sempre»”, Maisfutebol, publicado em 27/9/2023, em linha: https://maisfutebol.iol.pt/canoagem/modalidades/fernando-pimenta-e-o-melhor-atleta-portugues-de-sempre, consultado em 6/1/2024.
***, “Nelo, a marca mais premiada da canoagem”, Porto Canal, publicado em 28/9/2022, em linha: https://portocanal.sapo.pt/noticia/311334, consultado em 6/1/2024.
***, “Nelo: canoagem e sustentabilidade”, Jornal de negocios, publicado em 22/3/2022, em linha: https://www.jornaldenegocios.pt/negocios-em-rede/mar-sustentavel/detalhe/nelo-canoagem-e-sustentabilidade, consultado em 6/1/2024.
***, “História”, Federacão Portuguesa Canoagem, [s.d.], em linha: https://www.fpcanoagem.pt/federacao/historia, consultado em 7/1/2024.
***, “História”, Nelo, [s.d.], em linha: https://www.nelo.eu/historia/?lang=pt-pt, consultado em 6/1/2024.
***, “Sobre nós”, Nelo, [s.d.], em linha: https://www.nelo.eu/sobre-nos/?lang=pt-pt, consultado em 6/1/2024.
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Cette page a été rédigée pour la revue ROMA 4/2023 par Giulio Girlando. |