A capoeira, uma história de luta

ROMA 01 CI 01 01

Hoje, a capoeira é praticada em aproximadamente sessenta países no mundo. Essa arte é considerada como o principal meio de divulgação da cultura brasileira.

Quando pensamos na Capoeira, vemos as acrobacias impressionantes e o dinamismo. Mas ao lado das particularidades técnicas, há uma história dolorosa que testemunha a beleza da luta pela dignidade humana. Com este artigo, vão descobrir as raízes profundas dessa arte.

A capoeira é uma arte marcial afro-brasileira desenvolvida pelos escravos africanos de etnia banto no Brasil, no século XVI (Evandro Machado Ramos 2020). Ao chegarem ao Brasil, os africanos precisaram de criar formas de proteção contra a violência e repressão dos colonizadores portugueses. O problema era que os senhores das plantações proibiam os escravos de praticar qualquer tipo de luta. Por isso, os escravos utilizaram o ritmo e os movimentos das suas danças africanas, para disfarçar o facto de lutar. Surgia assim a capoeira, uma arte marcial disfarçada de dança. Foi um instrumento importante da resistência cultural e física dos escravos africanos. 

Depois da abolição da escravatura no Brasil, a capoeira estava associada à manifestação de vagabundos e marginais, e era classificada como uma infração no Código Penal Brasileiro (De Figueiredo Lucena e Trigueiro Matos 2018).

Não obstante, na década de 1920, as autoridades brasileiras começaram a rever a lei sobre a proibição da capoeira. Isso foi possível sobretudo graças ao impulso notável do mestre Bimba. Além de ser o criador da capoeira Regional, ele investiu muito do seu tempo a demonstrar a eficácia da capoeira como manifestação de luta (De Figueiredo Lucena e Trigueiro Matos 2018). A sistematização e a inserção social da capoeira no contexto da educação popular contribuíram para sua descriminalização. A capoeira, apesar da sua repressão, foi celebrada pelos intelectuais brasileiros desde o final do século XIX como o único desporto realmente nacional (Röhrig Assuncao 2014).

ROMA 01 CI 01 02

Atualmente, quando falamos da capoeira, falamos de 3 estilos diferentes:  o estilo mais antigo é a capoeira de Angola, criada pelos escravos africanos. As principais características deste estilo são o ritmo musical lento, os golpes jogados mais baixos (próximos ao solo) e a malícia (Evandro Machado Ramos 2020). Antes, esse tipo de jogo chamava-se capoeira. Mas com a criação da capoeira Regional, distinguir os dois estilos era essencial. Por isso chamamos a capoeira original, capoeira de Angola. O estilo Regional caracteriza-se pela mistura da malícia da capoeira angola com o jogo rápido de movimentos, ao som do berimbau, um instrumento de música. O último estilo chama-se capoeira Contemporânea. É o mais praticado na atualidade.

Nos dias que correm, há muitos jogadores de capoeira no mundo. A expansão da Capoeira nos países europeus começou a partir dos anos 70 (Fonseca Luiz 2008). Hoje, a capoeira é praticada em aproximadamente sessenta países no mundo. Essa arte é considerada como o principal meio de divulgação da cultura brasileira (Fonseca Luiz 2008).

A capoeira é um dos poucos desportos que mistura tantas disciplinas numa. É um reflexo do sofrimento de um povo que fez tudo para sobreviver. Essa arte permite-nos sentir, através da expressão corporal, a experiência dos escravos. É uma forma de honrar aqueles que nos deixaram este legado.

Referências bibliográficas

DE FIGUEIREDO LUCENA R. e TRIGUEIRO MATOS N., 2018, “Educação, jogo de corpo e ‘Mandinga’ na capoeira de Bimba”, Cad. CEDES, 38/104, p. 89-102.
EVANDRO MACHADO RAMOS J., 2020, “História resumida da Capoeira”, Suapesquisa, https://www.suapesquisa.com/educacaoesportes/historia_da_capoeira.htm, consultado a 07/11/2020.
FONSECA LUIZ V., 2008, “A capoeira contemporânea: antigas questões, novos desafios”, Recorde: Revista de História do Esporte, 1/1, pp. 1-30.
GUIMARÃES TEXEIRA DO AMARAL M., DOS SANTOS SILVA V., 2015, “Capoeira, herdeira da diáspora negra do Atlântico: de arte criminalizada a instrumento de educação e cidadania”, Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, 62, p. 54-73.
RÖHRIG ASSUNCAO M., 2014, “Ringue ou academia? A emergência dos estilos modernos da capoeira e seu contexto global”, Hist. cienc. saude-Manguinhos, 21/1.
Imagens
CAPOEIRA IN THE STREET: Herr Klugbeisser, Capoeira in the street
DANÇA DA GUERRa: Capoeira ou a dança da guerra por Johann Moritz Rugendas, 1835.

revue roma blanc 120 Cet article a été rédigé pour la revue ROMA 1/2020 par Anne-Sophie Nzuzi Odia.
ULB multigram Label