2020: Os mestrados Erasmus Mundus: como mudar-se para o outro lado do mundo durante uma pandemia

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Os mestrados Erasmus Mundus são programas de estudos internacionais conjuntos de prestígio, formados por um consórcio internacional de instituições de ensino superior. Os melhores estudantes selecionados anualmente podem beneficiar de determinadas bolsas de estudo, financiadas pela UE.

O número de estudantes brasileiros que ganharam bolsas de estudo para mestrados Erasmus Mundus é significativo. Efetivamente, considerando que as bolsas para o ano de 2020 foram 2452, o Brasil foi o país que recebeu o maior número de bolsas. Este dado sublinha a vontade e o desejo dos estudantes brasileiros de sair do país e também a sua flexibilidade linguística, porque geralmente os mestrados Erasmus Mundus exigem candidatos com conhecimento de duas ou mais línguas.

Conversamos com o João Barbosa Pina Pereira, um estudante do programa MITRA (Erasmus Mundus Master - Migrations Transnationales) originário de Florianópolis (Santa Catarina, Brasil). Pedimos ao João um pouco mais de informações sobre o seu mestrado Erasmus Mundus.

J: Agora estou inscrito num master europeu que se chama MITRA. MITRA é um programa de mestrado sobre as migrações transnacionais e diversidade cultural. O que é bacana neste projeto é que os estudantes têm a possibilidade de mudar bastante na Europa, então a gente passa seis meses em vários países. Por exemplo, agora estamos na Bélgica, depois vamos para a Polônia, em Wroclaw e também podemos escolher outros países no exterior da Europa, como Senegal ou Brasil, durante o terceiro semestre. Eu acho que é um projeto incrível, tenho colegas de várias nacionalidades: italianos, ingleses, brasileiros, das Maurícias, e todos falam muitas línguas diferentes. Enfim, é muito bacana! As aulas são muito boas, os professores também, até agora estou gostando muito.

A região de Bruxelas é a mais multicultural na Europa e a segunda mais multicultural do mundo, depois da cidade de Dubai. Muitas comunidades moram em Bruxelas e a comunidade brasileira representa uma das principais em alguns bairros, mesmo se há uma diferença cultural entre o Brasil e a Bélgica, e língua não é muito similar ao portuguȇs. Pedimos ao João as suas impressões sobre a cidade de Bruxelas e perguntamos do que ele gostou mais na cidade.

J: Eu gosto muito de Bruxelas, é uma cidade muito diferente mas eu gosto da sua dinâmica. Até agora percebi que é uma cidade grande, muito bem organizada. Eu gosto muito desse ambiente internacional aqui. Se vê que é uma cidade cosmopolita onde se encontram muitas pessoas, de diferentes locais. Também é uma cidade com um bom sistema de transportes coletivos, e isso para um brasileiro é algo muito bom! É impressionante como se pode atravessar a cidade em 25 minutos em metrô, trem, bus. Em geral, é uma cidade que me agrada muito.

Perguntamos ao João quais são as diferenças que ele percebeu mais entre a sua cidade natal, Florianópolis, e Bruxelas.

J: Há muitas! Lá é muito mais ensolarado do que aqui e lá tem praias, o que é legal. Além disso, eu acho que as pessoas ao Brasil, em geral, são mais informais, sobretudo no falar. Por exemplo, a gente tende a ser muito amigável, mesmo se não conhece muito bem a pessoa com que ele está falando. As expressões “irmão” o “mano” são muito familiares mas também bastante utilizadas. E aqui, como a língua mais utilizada é o francês, eu acho que as conversas são mais formais. Por exemplo, se fala com uma pessoas que não conhece vai falar com “vous” e não “tu”, então essa é uma grande diferença. Uma outra diferença é a gestão do lixo! Aqui tem um sistema diferente do Brasil, ou seja, aqui tem certos dias para colocar o lixo para fora e algumas diferenças entre os sacos, enquanto que no Brasil se pode colocar o lixo para fora em qualquer dia e mesmo com os sacos de compra, do supermercado, não tem que comprar sacos especiais para o lixo. Então essa foi uma coisa interessante também!

Uns dos problemas mais frequente entre os estudantes Erasmus Mundus é a solidão durante o primeiro período de adaptação. Efetivamente, o período de adaptação não é sempre fácil porque os estudantes estão num lugar desconhecido, muito frequentemente sem conhecer ninguém, longe do seus amigos e da sua família. Especialmente durante uma pandemia. Perguntamos ao João como foi a sua chegada a Bruxelas e como vive a pandemia atual.

J: Tenho de dizer que a minha chegada em Bruxelas não foi fácil, também por causa da quarentena que tive que fazer. É claro que a pandemia não é fácil para ninguém, eu acho que ninguém gostaria estar em lockdown, mas agora eu tenho muita sorte porque moro com três pessoas, então tenho sempre gente para conversar e discutir ideias. Moro com um belga, um congolȇs e um espanhol, então sempre há muitas coisas de que falar! Normalmente comemos juntos, às vezes tocamos uns instrumentos musicais na sala de estar. Tenho muita sorte porque acho que se vivesse completamente sozinho, isto seria muito diferente, muito pior.

Durante um mestrado Erasmus Mundus, os estudantes têm que estudar, no mínimo, em dois dos países do consórcio, e parte dos estudos pode também decorrer num país fora da União Europeia. Ao concluírem o programa de estudos, os estudantes obtêm um diploma conjunto (ou seja, um único diploma emitido, pelo menos, por duas instituições parceiras) ou vários diplomas das instituições de ensino superior do consórcio.

F: Então, antes disseste que uma oportunidade do programa MITRA é estudar por um semestre no Brasil. Pensas voltar para o Brasil durante o terceiro semestre?

J: Não, não penso voltar para o Brasil, mesmo se não conheço o Rio de Janeiro e gostaria muito de visitá-lo. Eu penso ir para o Senegal, então em Dakar, porque eu nunca estive no continente africano antes e ouvi falar muito bem do país e a língua é o francês, então uma língua com a qual eu posso comunicar. Em geral, tenho muito interesse em conhecer a realidade de lá: das pessoas, das famílias, das crianças, da migração. Então, penso que vai ser uma experiência muito rica e estou com muita vontade de ir! No entanto, para os estudantes que querem ir estudar para o Brasil, eu aconselho a todo o mundo a ir dançar forró e ir ao carnaval, mesmo se agora com a pandemia é um pouco difícil.. e especialmente visitar Salvador da Bahia, que é uma cidade que eu amo muito, onde se pode comer muito bem!

Referências bibliográficas

BUENO M., 2018, “A Comunidade Brasileira Na Bélgica”, Brasileiras Pelo Mundo, 07/10/2018, https://www.brasileiraspelomundo.com/a-comunidade-brasileira-na-belgica-1108102168, accessed 07/11/2020.
VERBOVCI B., 2020, “2,450 Fully Funded Erasmus Scholarship 2020&2021”, EU Programmes Support Centre, 11/07/2020, https://euproject.xyz/2450-fully-funded-erasmus-scholarship-2020-2021/, accessed 07/11/2020.
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ERASMUS: https://www.europe-gascogne.eu/?p=3129

revue roma blanc 120 Cet article a été rédigé pour la revue ROMA 1/2020 par Francesca Tiberio.
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